NR-1 e Saúde Mental: estamos mesmo preparados para essa mudança?
- Bruna Helena

- 22 de mar.
- 3 min de leitura

A saúde mental finalmente entrou no radar das políticas de saúde e segurança do trabalho. Com a atualização da NR-1, que passa a valer em maio de 2025, as empresas terão que incluir os riscos psicossociais como estresse, burnout, assédio e sobrecarga no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
Essa mudança marca um avanço inegável. Mas a pergunta que fica é: o mundo do trabalho brasileiro está realmente pronto para isso?
O que muda com a nova NR-1?
A Norma Regulamentadora nº 1, que estabelece diretrizes gerais de segurança e saúde no trabalho, foi atualizada pela Portaria MTE nº 1.419/2024. A principal novidade é a inclusão da obrigatoriedade de identificação e controle dos riscos psicossociais como parte do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais.
Na prática, isso significa que as empresas deverão:
Mapear fatores que afetam a saúde mental dos trabalhadores;
Incluir esses fatores no PGR;
Adotar medidas preventivas para reduzir impactos negativos no bem-estar psicológico dos colaboradores.
Mas... estamos prontos?
A realidade brasileira é diversa e complexa e quando olhamos de perto, percebemos algumas barreiras estruturais sérias para que essa norma seja efetivamente implementada.
1. Falta de preparo das empresas
Muitas organizações ainda não reconhecem o adoecimento psíquico como um problema coletivo e ocupacional. Há uma tendência a tratar sofrimento emocional como "problema pessoal" ou "falta de resiliência", o que impede a criação de estratégias efetivas de prevenção.
2. A cultura do silêncio
Em muitos ambientes de trabalho, falar de saúde mental ainda é visto como fraqueza. Colaboradores têm medo de se abrir, líderes não sabem como acolher, e o tema acaba varrido para debaixo do tapete.
3. RH sobrecarregado, sem estrutura
Em diversas empresas, especialmente as pequenas e médias, o setor de RH é enxuto e multifuncional. Espera-se que "cuide das pessoas", mas sem equipe, sem verba e sem apoio estratégico, a missão vira ilusão.
4. Pequenas empresas sem suporte técnico
Grande parte das empresas brasileiras são pequenas ou informais, sem acesso a psicólogos do trabalho, consultorias especializadas ou programas estruturados. Como esperar que cumpram a norma com profundidade?
O risco da norma virar mais um papel na gaveta
Se não houver preparo e compromisso real, a atualização da NR-1 corre o risco de se tornar mais uma exigência burocrática sem efeito prático. Palestras pontuais ou cartilhas genéricas não são suficientes para transformar a cultura organizacional.
É preciso mudar estruturas, não só discursos.
E agora? Por onde começar?
Apesar dos desafios, há caminhos possíveis e realistas para tornar a NR-1 uma ferramenta de transformação:
Capacitação de lideranças: ensinar gestores a reconhecer sinais de sofrimento e agir com escuta e acolhimento.
Revisão de práticas tóxicas: como sobrecarga, metas desumanas e relações baseadas no medo.
Criação de políticas internas de saúde mental: com canais seguros de escuta, ações preventivas e acompanhamento contínuo.
Parcerias com profissionais da saúde mental: psicólogos organizacionais, consultorias, startups de bem-estar.
Conclusão
A atualização da NR-1 é um avanço. Ela reconhece, oficialmente, que a saúde mental importa e que deve ser cuidada com o mesmo rigor dos riscos físicos e químicos.
Mas para que isso saia do papel e chegue às pessoas, precisamos mais do que uma nova norma. Precisamos de uma nova consciência.
Que essa seja uma oportunidade de repensar, de verdade, o modo como o trabalho está afetando a vida e a saúde de tanta gente.
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Bruna Helena
Psicologia Clínica e Organizacional
Especialista em TCC - CRP 05/43782
Contato: (21) 99808-7586




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