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NR-1 e Saúde Mental: estamos mesmo preparados para essa mudança?

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A saúde mental finalmente entrou no radar das políticas de saúde e segurança do trabalho. Com a atualização da NR-1, que passa a valer em maio de 2025, as empresas terão que incluir os riscos psicossociais como estresse, burnout, assédio e sobrecarga no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).


Essa mudança marca um avanço inegável. Mas a pergunta que fica é: o mundo do trabalho brasileiro está realmente pronto para isso?


O que muda com a nova NR-1?

A Norma Regulamentadora nº 1, que estabelece diretrizes gerais de segurança e saúde no trabalho, foi atualizada pela Portaria MTE nº 1.419/2024. A principal novidade é a inclusão da obrigatoriedade de identificação e controle dos riscos psicossociais como parte do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais.


Na prática, isso significa que as empresas deverão:

  • Mapear fatores que afetam a saúde mental dos trabalhadores;

  • Incluir esses fatores no PGR;

  • Adotar medidas preventivas para reduzir impactos negativos no bem-estar psicológico dos colaboradores.


Mas... estamos prontos?

A realidade brasileira é diversa e complexa e quando olhamos de perto, percebemos algumas barreiras estruturais sérias para que essa norma seja efetivamente implementada.


1. Falta de preparo das empresas

Muitas organizações ainda não reconhecem o adoecimento psíquico como um problema coletivo e ocupacional. Há uma tendência a tratar sofrimento emocional como "problema pessoal" ou "falta de resiliência", o que impede a criação de estratégias efetivas de prevenção.


2. A cultura do silêncio

Em muitos ambientes de trabalho, falar de saúde mental ainda é visto como fraqueza. Colaboradores têm medo de se abrir, líderes não sabem como acolher, e o tema acaba varrido para debaixo do tapete.


3. RH sobrecarregado, sem estrutura

Em diversas empresas, especialmente as pequenas e médias, o setor de RH é enxuto e multifuncional. Espera-se que "cuide das pessoas", mas sem equipe, sem verba e sem apoio estratégico, a missão vira ilusão.


4. Pequenas empresas sem suporte técnico

Grande parte das empresas brasileiras são pequenas ou informais, sem acesso a psicólogos do trabalho, consultorias especializadas ou programas estruturados. Como esperar que cumpram a norma com profundidade?


O risco da norma virar mais um papel na gaveta

Se não houver preparo e compromisso real, a atualização da NR-1 corre o risco de se tornar mais uma exigência burocrática sem efeito prático. Palestras pontuais ou cartilhas genéricas não são suficientes para transformar a cultura organizacional.


É preciso mudar estruturas, não só discursos.


E agora? Por onde começar?

Apesar dos desafios, há caminhos possíveis e realistas para tornar a NR-1 uma ferramenta de transformação:


  • Capacitação de lideranças: ensinar gestores a reconhecer sinais de sofrimento e agir com escuta e acolhimento.

  • Revisão de práticas tóxicas: como sobrecarga, metas desumanas e relações baseadas no medo.

  • Criação de políticas internas de saúde mental: com canais seguros de escuta, ações preventivas e acompanhamento contínuo.

  • Parcerias com profissionais da saúde mental: psicólogos organizacionais, consultorias, startups de bem-estar.


Conclusão

A atualização da NR-1 é um avanço. Ela reconhece, oficialmente, que a saúde mental importa e que deve ser cuidada com o mesmo rigor dos riscos físicos e químicos.

Mas para que isso saia do papel e chegue às pessoas, precisamos mais do que uma nova norma. Precisamos de uma nova consciência.

Que essa seja uma oportunidade de repensar, de verdade, o modo como o trabalho está afetando a vida e a saúde de tanta gente.




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Bruna Helena

Psicologia Clínica e Organizacional

Especialista em TCC - CRP 05/43782

Contato: (21) 99808-7586


 
 
 

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© 2024 por Bruna Helena Psicóloga.

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